segunda-feira, 26 de março de 2012

SONETO DA SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E de mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Faz-se de t riste o que se fez de amante
E de sozinho o que fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente


                     Vinicius de Moraes



segunda-feira, 19 de março de 2012

                                            OVO
                                        NOVELO
                                  NOVO NO VELHO
                               O FILHO EM FOLHAS
                               NA JAULA DOS JOELHOS
                                INFANTE EM FONTE
                                       FETO FEITO
                                     DENTRO DO
                                        CENTRO

segunda-feira, 5 de março de 2012

Nunca diga

Nunca diga
o que eu digo.

Se eu digo
"esta flor é vermelha",
diga:
"esta flor é amarela".

Se eu digo:
"não arranque esta flor",
diga:
"vou arrancar esta flor".

Se eu digo:
"cuidado com os espinhos"
diga:
"não ligo para os espinhos"

não diga
o que eu digo,
por isso
não poderá dizer?
"esta flor é amarela"
"vou arrancar esta flor"
"não ligo para os espinhos"

pois quem disse
fui eu
e não você

Então agora,
o que tem
a me dizer?

                  (Heitor Ferraz)

Relógio

  As coisas são
  As coisas vêm
  As coisas vão
  As coisas
  Vão e vêm
  Não em vão
  As horas
  Vão e vêm
  Não em vão   


                                      Oswald de Andrade
  O vento assobia,
  a árvore requebra,
  o mar balança.

  No planeta Samba,
  todo mundo tem gingado.

  A chuva batuca,
  o rio desfila,
  a nuvem dança.

  No planeta Samba,
  todo mundo é bem chegado.




                             Ricardo Silvestrin

Planeta água

  Água que nasce na fonte serena do mundo
  E que abre o profundo grotão
  Água que faz inocente riacho e deságua
  Na corrente do ribeirão
  Águas escuras dos rios
  Que levam a fertilidade ao sertão
  Águas que banham aldeias
  E matama sede da população
  águas que caem das pedras
  No véu das cascatas ronco de trovão
  E depois dormem trnquilas
  No leito dos lagos, no leito dos lagos
  Água dos  igarapés onde Iara mãe-d'água
  É misteriosa canção
  Água que o sol evapora
  Pro céu vai embora
  Virar nuvens de algodão
  Gotas de água da chuva
  Alegre arco-íris sobre a plantação
  Gotas de água da chuva
  Tão tristes são lágrimas na inundação
  Águas que movem moinhos
  São as mesmas águas
  Que encharcam o chão
  E sempre voltam humildes
  Pro fundo da terra, pro fundo da terra
  Terra planeta água... Terra planeta água
  Terra planeta água


                                   Guilherme Arantes