quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Poemas rupestres, de Manoel de Barros

 Versão para impressão
Nesta obra, Poemas rupestres, Manoel de Barros recorre às lembranças de Mato Grosso, e de seus primeiros passos no Pantanal, para dar novos significados às palavras. O livro oferece uma oportunidade de apresentar aos leitores a vida de um dos mais importantes poetas contemporâneos. Um autor que surpreende, ao mesmo tempo em que intriga e comove ao leitor, com o despojamento de seus versos, tirados de chão, árvore, bicho, água e pedra.

Poemas Rupestres, como inscritos nas paredes das cavernas de todos nós, traz a voz sábia da infância, de uma falsa inocência estonteante cuja leitura escorre como riacho tantas vezes visitado por esta poética que nos torna meninos de novo que de tão a custo a gente se segura pra não sair pra rua pra fazer travessuras com o olhar de passarinho. Mas de repente, num verso, vem aquele travo amargor com gosto de vida real e o encantamento resvala pra consciência “vira mundo” e a poesia se transforma no road movie do poeta sábio que com sua experiência revela o que há pra ver por trás das palavras simples, das imagens claras.

O que essa poética tem é a capacidade de ver e traduzir um essencial tão ao avesso do colosso artificial da atual era do simulacro, fulcro de uma civilização medida por tonelada consumida. Ao se jeito de audição, de estória contada, se faz tato para a alma, já que “o tato é mais que o ver / é mais que o ouvir / é mais que o cheirar” e o êxtase táctil, mas também auditivo e visual , que o menino Manoel de Barros nos transmite com as suas poesias rupestres, que ficam pintadas em nossas retinas e na nossa memória muito depois de termos lido este livro.

Em Poemas rupestres, ele retorna aos elementos que marcam seu trabalho desde a primeira publicação, em 1937: a paisagem do Pantanal, a infância, a relação misteriosa que existe entre as coisas e os nomes que damos a elas.
Análise dos poemas

– Escritos na terra. A terra é o elemento primordial.

– Os mais elementares traços do homem querendo eternizar o tempo, o momento.

– A infância do homem, o seu retorno eterno na aprendizagem.

– Escritos primitivos jogados na terra como elemento primordial e convivente com o homem.

– Primeira relação reflexa mais elaborada. Sintomas da saída do nível instintivo para o reflexivo.

– Capacidade de retratar o elementar embutido no sentido valendo-se da força da terra e da capacidade primitiva.

– Fuga do controle do sistema límbico para a grande passagem para o neo-córtex cerebral.

– As atividades de sobrevivência cavalgam para a memória para sobreviver no tempo.

– As técnicas elementares do homem primitivo como expressão da força criadora.

– As margens dos percursos criativos, imaginativos denotam o seu percurso criador ou as técnicas à disposição.

– Rupestres indicam as paredes, as encostas, os painéis que a natureza oferece sem concorrência da elaboração humana. A oferta da natureza como possibilidade para o mundo imaginativo do homem das hordas.

– Rupestres, de ambíguas faces: dadas, impostas pela convivência e duradouras por sua natureza constitutiva. Com muita força porque imponente e difícil. Caráter de difícil acesso, de fixação da relação, mas promissora quanto à duração.

– Rupestres, pois não denotam que duas vertentes de influência: a natureza áspera e gritante; a “primevidade”, vale dizer, sem a mão ou presença de qualquer outro que não seja aquele que conseguiu atingir aquele lugar e soube ter acesso de convivência tão intenso que a natureza aceitou a sua firma, o seu sinete, mesmo que impessoal. Lá está e estará enquanto outro artista não transfigurar a natureza primitiva.

– Trata-se de um percurso longo às reações e percepções ancestrais para surpreender o segredo do lúdico, do primordial, do estado vital antes do primeiro reflexo.

– Assim cabe mesmo registrar que o poeta percorreu e atingiu um processo, uma época, um estágio que se mostrou inaugural, por sua origem e percurso.

"Rupestres" caracterizam um sonho do estado primordial quando nenhum gesto feito tinha sido fixado na memória, nos sentidos ou na reflexão do homem. Então o poeta convive com os albores do dizer humano tornado arte. Visão primordial oferecida em poemas que surgiram dos berços primitivos, da rusticidade intuitiva com que o poeta tratou as palavras e a vida.

"Rupestres" porque serão lembrados como revelações da ludicidade do poeta em estado de homem primitivo em completa sintonia e apreensão pela força da natureza, em estado de grande ludicidade também.
Primera Parte
CANÇÃO DE VER

Canção aqui é igual a um poema a ser proclamado ou cantado. Assim a canção “canta” o seu conteúdo, proclama a voz do ser que se expressa e se desdobra em cada verso; expressa também, a canção, sua harmonia nos sons das palavras e nas tonalidades suscitadas.

Canção, harmonia de um conjunto que se revela em tonalidades sonoras até e em cenários. A canção se refere aos sons como tais e aos tons – tonalidades – que compõem as frases da harmonia temática. A canção concretiza tonalidades das emoções enquanto se refere ao coração, às paisagens descobertas se refere à imaginação. Por fim, na combinação de vozes das palavras se se refere aos ouvidos como portadores do receptáculo do coração.

O autor/poeta combina canção com outro sentido muito claro e definido: o olhar. Compõe ele, canções para se ver. Admite e recria o sentido compondo-lhe canções que o educam e o tornam novo, capaz de harmonias pelas palavras vistas em si ou por imagens que os sons, os processos e as imagens constróem como cenários. Esses cenários para o poeta cantam canções para o olhar; oferece-se ao leitor como caminho e harmonia, como novidade e percurso que incluiu o leitor pelo olhar fantástico que a imaginação lhe oferece, integrando-o como um todo que participa e é percorrido pelo poema a partir do olhar.

O olhar passa a ser a porta que recebe o mundo inaugurado pelo poeta rupestre. A ludicidade envolve o leitor que se deixar levar pelo percurso, já se verá outro, o poema o transformou.

O olhar envolveu-o todo em estado de revelação.

Poemas rupestres, de Manoel de Barros

 Versão para impressão
Nesta obra, Poemas rupestres, Manoel de Barros recorre às lembranças de Mato Grosso, e de seus primeiros passos no Pantanal, para dar novos significados às palavras. O livro oferece uma oportunidade de apresentar aos leitores a vida de um dos mais importantes poetas contemporâneos. Um autor que surpreende, ao mesmo tempo em que intriga e comove ao leitor, com o despojamento de seus versos, tirados de chão, árvore, bicho, água e pedra.

Poemas Rupestres, como inscritos nas paredes das cavernas de todos nós, traz a voz sábia da infância, de uma falsa inocência estonteante cuja leitura escorre como riacho tantas vezes visitado por esta poética que nos torna meninos de novo que de tão a custo a gente se segura pra não sair pra rua pra fazer travessuras com o olhar de passarinho. Mas de repente, num verso, vem aquele travo amargor com gosto de vida real e o encantamento resvala pra consciência “vira mundo” e a poesia se transforma no road movie do poeta sábio que com sua experiência revela o que há pra ver por trás das palavras simples, das imagens claras.

O que essa poética tem é a capacidade de ver e traduzir um essencial tão ao avesso do colosso artificial da atual era do simulacro, fulcro de uma civilização medida por tonelada consumida. Ao se jeito de audição, de estória contada, se faz tato para a alma, já que “o tato é mais que o ver / é mais que o ouvir / é mais que o cheirar” e o êxtase táctil, mas também auditivo e visual , que o menino Manoel de Barros nos transmite com as suas poesias rupestres, que ficam pintadas em nossas retinas e na nossa memória muito depois de termos lido este livro.

Em Poemas rupestres, ele retorna aos elementos que marcam seu trabalho desde a primeira publicação, em 1937: a paisagem do Pantanal, a infância, a relação misteriosa que existe entre as coisas e os nomes que damos a elas.
Análise dos poemas

– Escritos na terra. A terra é o elemento primordial.

– Os mais elementares traços do homem querendo eternizar o tempo, o momento.

– A infância do homem, o seu retorno eterno na aprendizagem.

– Escritos primitivos jogados na terra como elemento primordial e convivente com o homem.

– Primeira relação reflexa mais elaborada. Sintomas da saída do nível instintivo para o reflexivo.

– Capacidade de retratar o elementar embutido no sentido valendo-se da força da terra e da capacidade primitiva.

– Fuga do controle do sistema límbico para a grande passagem para o neo-córtex cerebral.

– As atividades de sobrevivência cavalgam para a memória para sobreviver no tempo.

– As técnicas elementares do homem primitivo como expressão da força criadora.

– As margens dos percursos criativos, imaginativos denotam o seu percurso criador ou as técnicas à disposição.

– Rupestres indicam as paredes, as encostas, os painéis que a natureza oferece sem concorrência da elaboração humana. A oferta da natureza como possibilidade para o mundo imaginativo do homem das hordas.

– Rupestres, de ambíguas faces: dadas, impostas pela convivência e duradouras por sua natureza constitutiva. Com muita força porque imponente e difícil. Caráter de difícil acesso, de fixação da relação, mas promissora quanto à duração.

– Rupestres, pois não denotam que duas vertentes de influência: a natureza áspera e gritante; a “primevidade”, vale dizer, sem a mão ou presença de qualquer outro que não seja aquele que conseguiu atingir aquele lugar e soube ter acesso de convivência tão intenso que a natureza aceitou a sua firma, o seu sinete, mesmo que impessoal. Lá está e estará enquanto outro artista não transfigurar a natureza primitiva.

– Trata-se de um percurso longo às reações e percepções ancestrais para surpreender o segredo do lúdico, do primordial, do estado vital antes do primeiro reflexo.

– Assim cabe mesmo registrar que o poeta percorreu e atingiu um processo, uma época, um estágio que se mostrou inaugural, por sua origem e percurso.

"Rupestres" caracterizam um sonho do estado primordial quando nenhum gesto feito tinha sido fixado na memória, nos sentidos ou na reflexão do homem. Então o poeta convive com os albores do dizer humano tornado arte. Visão primordial oferecida em poemas que surgiram dos berços primitivos, da rusticidade intuitiva com que o poeta tratou as palavras e a vida.

"Rupestres" porque serão lembrados como revelações da ludicidade do poeta em estado de homem primitivo em completa sintonia e apreensão pela força da natureza, em estado de grande ludicidade também.
Primera Parte
CANÇÃO DE VER

Canção aqui é igual a um poema a ser proclamado ou cantado. Assim a canção “canta” o seu conteúdo, proclama a voz do ser que se expressa e se desdobra em cada verso; expressa também, a canção, sua harmonia nos sons das palavras e nas tonalidades suscitadas.

Canção, harmonia de um conjunto que se revela em tonalidades sonoras até e em cenários. A canção se refere aos sons como tais e aos tons – tonalidades – que compõem as frases da harmonia temática. A canção concretiza tonalidades das emoções enquanto se refere ao coração, às paisagens descobertas se refere à imaginação. Por fim, na combinação de vozes das palavras se se refere aos ouvidos como portadores do receptáculo do coração.

O autor/poeta combina canção com outro sentido muito claro e definido: o olhar. Compõe ele, canções para se ver. Admite e recria o sentido compondo-lhe canções que o educam e o tornam novo, capaz de harmonias pelas palavras vistas em si ou por imagens que os sons, os processos e as imagens constróem como cenários. Esses cenários para o poeta cantam canções para o olhar; oferece-se ao leitor como caminho e harmonia, como novidade e percurso que incluiu o leitor pelo olhar fantástico que a imaginação lhe oferece, integrando-o como um todo que participa e é percorrido pelo poema a partir do olhar.

O olhar passa a ser a porta que recebe o mundo inaugurado pelo poeta rupestre. A ludicidade envolve o leitor que se deixar levar pelo percurso, já se verá outro, o poema o transformou.

O olhar envolveu-o todo em estado de revelação.

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